terça-feira, 26 de outubro de 2010

COISA



Coisa, coisas, tudo coisa.

As pessoas, coisas.

eu ? coisa.

E a alma arrancada, jogada.

E tu sorrindo, rindo

gozando de mim?

Quem és tu sem Eterno?

Tu- não importa a idade-

és limitado, finito.

Tu não existes.

Tu número, coisa.

Mutilação,

destruição do ser.

Tu eliminas o eterno

e eliminas a ti

sem apelo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

LOUVOR

FELIZ ANIVERSÁRIO FREI PIERINO, MEU IRMÃO E MEU AMIGO!

Louvor

Queria ter apenas
uma palavra ao menos
para agradecer
a palavra de amor que me chamou a viver.

Queria também
Guardar um puro silêncio
para adorar o mistério de teu coração
Senhor.
que sempre , sempre me busca
e pouco, muito pouco me encontra.

Queria sempre encontrar-te
e louvar-te
Senhor.
Frei Pierino Orlandine

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

SONHA


Sonhe!

é belo sonhar

não sufoque seus sonhos

na ordinariedade.

não mate seus sonhos,

não perca seu rastro

na estrada fácil da vida.

tente chegar!

é preciso ardentemente sonhar,

ansiosamente querer

para chegar.

CAMINHE!

Fixe seus olhos para alem do caminho!

é preciso sonhar, desafiar!

Que seja reais seus sonhos,

que não fiquem no mundo do devaneio,

que sejam encarnados

na história dos homens

é preciso VIVER!

Viver é lutar , insistir, trabalhar

alem de sonhar...

é preciso SAIR!

quebre as barreiras

do seu cotidiano

e sua cerca apertada!

Viva seus sonhos sem medo.

olhe para alem de seus olhos

e alem de seus sonhos.

Nunca é demais SONHAR

e CRER e ESPERAR e AMAR.


Frei Pierino Orlandini

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

OLHAR

Dá-me, senhor, um olhar livre,

límpido e simples,

que rompa as correntes

do meu egoísmo

e abra as portas

de minha prisão,

de minha fácil e estreita prisão.

dá-me um olhar profundo

que não se limite

a roçar as pessoas de modo fugaz,

dum jeito apressado.


que seja meu olhar

desarmado, sem vínculos e atento.

Dá-me, Senhor, um olhar

que ultrapasse a casca das coisas

e penetre para alem das fachadas.

Um olhar explorador eu quero

que chegue, Senhor, no teu aposente,

no centro do ser

e, no centro, fixe teu rosto,

no centro, fixe o rosto do outro

e, nele, te veja e te adore Senhor.


Pierino Orlandini


DISTÂNCIA

Distância,

separação,

dura realidade

que mexe nas dobra mais fundas do coração,

semeando nuvens

carregadas de espera,

tingidas de saudade doída!

E o tempo que para

-demorada parada no tempo!-

interrompe o ritmo doce da vida,

e quente harmonia da união

projetos e alegrias.

Distância,

um “nós” dividido,

um bloco partido,

mesmo que por instantes partido.

Mas como são longos

os instantes do “nós” dividido!

Distância

é nostálgica espera

do “eu” distante, tão longe,

a imagem do “tu” tão distante,

hetérea imagem

que foge dos olhos

e volta

e tange as cordas sonoras do coração,

em ritmo de saudade.

Terminará a espera

e as nuvens da noite

deixarão, ao céu estrelado, lugar;

pensadas serão as feridas

e os silêncios, sonoros.

Que voe este tempo!

Que me leve em suas asas, fora do tempo!

Que me leve no espaço que eu quero!

Um dia terminará a noite,

quando de novo oferecer-me-ás teus olhos,

portas abertas de teus secretos mistérios,

e tu, suavemente,

penetrará nos segredos

de minha alma em festa.


Pierino Orlandini

.

sábado, 11 de setembro de 2010

O ROCHEDO


Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço” (Gabriela Mistral).

Batem as ondas

no majestoso ROCHEDO

às vezes furiosas, às vezes tranqüilas,

sempre, sempre insistentes.

Não recusa o rochedo

o beijo quente e espumoso das ondas,

o férvido abraço das ondas

acalentadas pelo sol,

embaladas pelo vento.

É acolhedor o rochedo.

Não rejeita tampouco o rochedo

a prepotência veemente

a corrida barulhenta e raivosa,

a agressão confusa e violenta das ondas.

Fica imóvel o rochedo.

Penso na ROCHA,

no vaivém diferente de nossa existência,

na consistência da Rocha,

na inconsistência das ondas,

na volta das ondas ao mar, volta pacífica e calma.

Penso nas ondas, na vida,

no mar, no Rochedo que salva,

na luta, na paz.

É fiel o Rochedo

que promove o encontro tranqüilo

das ondas do mar!

Frei Pierino Orlandini

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

“A quem iremos?”



“Senhor, a quem iremos nós? Só Tu tens palavras de vida eterna” ( Jo 6, 68).

Faze Senhor, que sejamos palavras vivas, encarnadas. E que saibamos escutar-te num profundo e contemplante silencio, a Ti, Palavra Encarnada, Palavra de Vida, Palavra de Salvação: pois tu és o Verbo, Tu és a Vida, Tu és a Salvação.
“Uma só Palavra disse o Pai, que é seu filho, e a diz em eterno silêncio, e em silêncio deve ser ouvida pela alma” (S. João da cruz, D. 98).
Que saibamos Senhor, escutar-te em profundidade, mergulhados em ti e esquecidos de nós; e que saibamos acolher-te com coração aberto e dócil; e seguir teus passos com fidelidade e constância, mesmo quando nos levam a subir a rude encosta do Calvário, carregados com nossa cruz, que é a tua cruz. Mesmo nas noites escuras da dor e da morte, acreditamos que Tu, somente Tu tens palavras de vida, porque Tu, Jesus, és a Ressurreição e Vida plena.
E permanece conosco, Senhor. Permanece em nós e faze que permaneçamos em Ti. E que esta permanência íntima e recíproca seja uma antecipação, de alguma maneira, do céu na terra.
Alimenta Senhor, este desejo, com o pão da tua Palavra e com o Pão do teu Corpo. Dá-nos fome, Senhor, muita fome do teu pão, de tua palavra, de tudo o que é teu; uma fome insaciável de Ti. Que não se esgote em nós, nesta vida, esta fome. Que se apague esta fome apenas na união plena contigo, na eternidade.
Dá-nos sempre do teu pão Senhor, a fim de não procurarmos somente “migalhas que caem da tua mesa”, pois só Tu podes saciar-nos por completo. Só Tu tens Palavras de Vida eterna. Aonde iremos nós?


Como é importante em nossa vida a escuta da Palavra de Deus e a busca constante e insaciável daquele que se fez Palavra Encarnada! Que essa palavra abundantemente oferecida pela Liturgia, transforme nossa vida e nos transforme em seguidores entusiasmados e corajosos de Jesus de Nazaré.
Nós gastamos energias preciosas atrás de palavras enganadoras e vazias e, ainda, pronunciamos “de montão” palavras que permanecem palavras e se perdem no espaço e nos deixam vazios; palavras que não saciam; palavras que voam e criam em nós ilusões e encobrem nossa verdade, deixando-nos num plano de superficialidade; palavras não encarnadas, fúteis, sem fundo nem consistência, como cisternas furadas; palavras que nascem e que morrem; palavras, somente palavras.



Frei Pierino Orlandini

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Aqui estou, Senhor!




Aqui estou, ao teu dispor, Senhor!
eu,
minha vida,
meu espaço,
minha história,
meus anos, meses, dias,
minhas horas,
todo instante,
tudo o que sou,
tudo o que tenho.
Tudo é teu,
Senhor da vida,
Senhor da história.

Aqui estou Senhor,
no sempre dos meus limites
e no eterno de tua vontade,
contemplando teu projeto insondável,
teu mistério inefável
e as dimensões sem confins
do teu amor sem fim,
do teu amor por mim
em permanente fascinação,
em contemplação de tua imensidão
- Tu, Deus, és o IMENSO! –
agora presença humanizada
e permanência humano-divina
sacramentalizada
entre nós pecadores.

Ofereço-te, Senhor, um coração agradecido
e uma vontade feita de um amém cotidiano,
seguindo teus passos
até o holocausto da cruz no monte Calvário,
carregando a cruz de todos os dias.

Que seja minha vida um “SIM” sem reservas
feito de canto, de silêncio e de amor,
na espera da alegria e da vida sem fim,
sem angústias e sem dor.

Ó Maria, morada de Deus,
morada do Pão,
meu sustento nos caminhos da vida,
que eu seja também
terra virgem e fecunda
para o germinar de espigas que nutrem o universo.
Que minha vida, gerada por Deus Criador,
refeita por Jesus Redentor
irradie, pela força do Santificador,
no universo dos homens famintos,
a luz fulgurante do amor.
E ofereça à humanidade faminta de sempre
o Pão da vida sem fim,
que desceu do Céu e quis
permanecer para sempre entre nós.



Frei Pierino Orlandini

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Simples mulher



Humilde e pobre é meu canto
para glorificar-te;
pobres minhas palavras
para louvar-te e definir-te,
mulher,
misteriosa e bem-aventurada
realidade da vida!
Rico é o silêncio
para deixar insondável e intacto
o inefável mistério que tu és,
e aureolar-te da glória
que Deus quis para ti
ao fazer-te da VIDA presente,
sacrário e nascente!

Tu és o presente de Deus,
a face brilhante do amor.
Por ti, bondade-mulher,
por ti, ternura-mulher,
por ti, força-mulher,
por ti, vida-mulher,
por ti, virgem-mulher,
por ti, mãe-mulher,
por ti, SIMPLES MULHER,
o homem é homem,
a humanidade existe,
a ETERNIDADE se encarna no tempo,
pois um Deus em ti se faz homem.
Com tua beleza de virgem,
mulher,
com tua beleza de mãe,
mulher,
com tua beleza,
simples mulher,
tu bates com toda a tua força
no coração do homem
e o abres ao amor.

Eu não sei dizer
o que tu és perfeitamente,
mulher.
Sei que se existo,
existo porque tu existes
como instrumento escolhido por Deus.
E isso me basta
para dizer-te meu eterno “OBRIGADO”
e sempre agradecer
o Senhor que te fez.


Frei Pierino Orlandini

domingo, 1 de agosto de 2010

SACERDOTE


Frei Pierino

Feliz dia do sacerdote!
Este caminho que escolheu
é mesmo a melhor parte.



Luminoso, longínquo ideal,

Almejado, vivido, sofrido ideal,

Exaltante, risonho, presente ideal.

Transformante ideal!

SOU SACERDOTE!

Ó Cristo, és Deus,

Que sobes comigo ao altar.

E eu?...

Onipotente,

Onipotente eu também!

És Sacrifício, és Redentor,

Ainda e para sempre

Comigo no altar,

Teu trono de glória,

Meu banco de amor!

Ó Deus,

Contigo no altar

Olho-me e te adoro,

Ofereço-te e perdôo,

Contemplo-te e me humilho...

SOU SACERDOTE, SOU CRISTO!

Frei Pierino Orlandini

Poema composto há quase 40 anos atrás. Hoje, depois de 40 anos de Sacerdócio, renovo minha fé na missão sublime do sacerdote. Embora mais debilitado pelas dificuldades da caminhada de quarenta anos (quarenta é um número bíblico significativo), ela continua. E eu continuo com o entusiasmo do primeiro dia, acreditando na força de Deus e na presença do seu Espírito para realizar a missão a mim confiada por Cristo Jesus, que um dia me escolheu. Só tenho que agradecer! Obrigado, meu Senhor! Conte comigo!


1a. missa



VOAR



Ó BELEZA Infinita,
sempre clara e sempre viva,
sem limites, nem circunscrita,
sempre antiga e sempre nova,
sempre outra!
Ultrapasso os espaços
ao sopro do Vento,
voando
nas asas do Espírito,
transpondo limites.
Esta Imensa Beleza,
cativante Beleza sem fim,cria em mim asas:
Invisíveis, misteriosas asas...
que quebram barreiras,
rasgam os medos,
sem calcular precipícios,
num vôo livre e audacioso e impossível.
Mas nada é impossível!...-
E, assim, a Eternidade faz-se presente no tempo,
no espaço tão angusto, tão breve da história
do ser tão limitado!
“Olhos ao Alto e voe ! E, do Alto, perscrute!”
- eu sinto, eu escuto -.
Embaixo,
além e fora de si,
os homens circulam, caminham, labutam...
em busca do Outro.
E o Outro, absolutamente Outro,
Majestade Infinita, o Altíssimo,
“Deus-Conosco”, feito carne, -quem diria?-
vive nos outros: pequenos, carentes,
famintos,sedentos, abandonados, desfigurados,
deixados à margem, deixados de lado, jogados...
e nos outros se esconde.
Assim, simplesmente, misteriosamente,
como no Sacramento,
Cristo vivo neles se torna presente.
Neles – ó difícil Beleza escondida e presente de sempre! -
está o precipício que é preciso transpor.
Só é possível esse vôo,
vôo livre, voando,
carregados pelas asas do Amor.


“Existir hoje é deixar-se guiar pela Beleza, mesmo quando o guiará na orla do precipício e, embora ela tenha asas e você não e ela ultrapassará o precipício ,siga-a, porque onde não existe Beleza, nada existe” (Kahlil Gibran)

sábado, 31 de julho de 2010

Deserto



Solidão,

imensidão,

encontro.

É deserto.

Aí as pegadas são lábeis,

as dunas, móveis;

há aridez sem contrastes

Poucos oásis. Poucos oásis.

Sinto-me só no deserto. Bem perto de Jesus na Cruz.}2x

É uma experiência de MORTE o deserto.

MORTE o deserto. MORTE o deserto.

Levanto os olhos

E o céu está todo em meus olhos,

o céu aberto, incontrastável, imenso. Aberto..imenso.

O sol fulgurante

ilumina e domina meus olhos

e infunde na alma o sentido da vida.

Jesus ressucitado, Senhor glorificado.

Vejo que nada pode esconder,

no deserto,

O sol aos meus olhos.

Vejo que nada fica escondido dentro de mim, do Espirito Santo.

E uma experiência de VIDA o deserto,

VIDA o deserto, VIDA o deserto.


Frei Pierino orlandini


terça-feira, 27 de julho de 2010

Cântico de vida


Senhor Jesus,

Homem das dores,

Amor crucificado,

prelúdio de glória e vida sem fim,

acolhe-me,

discípulo, na tua escola,

escola de amor,

escola de vida,

mesmo na dor.

E mostra-me, clara e libertadora,

A verdade.

Ensina-me a olhar,

de pupilas abertas,

com olhos lançados na história

e a viver,

numa alegre e real descoberta,

a eternidade no tempo.

E a olhar para o além

e viver o agora na dimensão do além,

em perene espera,

estando eu todo no aqui e no além,

numa dialética sem contrastes,

pacífica,

entoando o cântico da vida,

constantemente,

também na dor e na morte,

pois ela é apaixonante sempre.

É vida eternamente.

Frei Pierino orlandini

quarta-feira, 14 de julho de 2010

CAMINHAR...CAMINHAR...ATÉ CHEGAR AO ENCONTRO


De tudo, ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando...

A certeza de que precisamos continuar...

A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

Portanto, devemos:

Fazer da interrupção, um caminho novo...

Da queda, um passo de dança...

Do medo, uma escada...

Do sonho, uma ponte...

Da procura, um encontro...

(Fernando Pessoa)

Começar sempre é sabedoria, é coragem, é sinal de esperança. É amor que se renova constantemente e, por, isso, não envelhece. Recomeçando sempre, livramo-nos da armadilha da rotina, da indiferença e da passividade. Trata-se de começar sempre, mas não fazer sempre o que sempre se fez, pelos simples fato de que sempre se fez. A vida é mudança. E vida espiritual é ainda mais mudança, pois devemos nascer de novo, como disse Jesus a Nicodemos. “Procurem ir começando sempre” – dizia a S. Madre Teresa – revelando sua abertura de mente e de coração, sua visão de futuro e a convicção de que a presença de Deus nos interpela na vida de cada dia.

Começar sempre é querer ter um ideal abrangente e lutar para conquistá-lo. É saber sonhar e nunca deixar de sonhar, olhando para o amanhã com um olhar novo e constantemente renovado, com desejo de novas descobertas. É dar espaço à criatividade, à invenção da própria existência, vivida com amor.

Ah! O amor! É ele que faz novas todas as coisas. É ele que “não cansa e nem se cansa”. É ele que torna leves todos os pesos. É ele que elimina as distâncias e se faz presente onde é exatamente direcionado: sempre para construir pontes, para aliviar feridas, para alegrar o coração de quem quer que seja, para instaurar encontros, para satisfazer todas as necessidades e para tornar possíveis todas as iniciativas apostólicas e nos insere profundamente no coração da Igreja.. “No coração da Igreja, minha Mãe, serei o Amor. E é ele que nos faz sempre mais semelhantes a Deus e nos fixa Nele – Amor Encarnado, Suma Bondade, Alegria Infinita”, Suma Felicidade – lançando-nos nos braços da Eternidade.

Precisamos caminhar! Pois a vida é “Caminho de perfeição”. Passo a passo, avançando em direção de Quem nos espera, sem perdermos o rumo já traçado, desde sempre, no projeto de Deus. Progredir! Crescer! Subir! Superar o cansaço, enfaixar as feridas, respirar fundo (os ares do Espírito), continuar a subida, passar pelas “noites escuras” da vida e encontrar-nos com a BELEZA INFINITA. E contemplar! Com a liberdade dos filhos de Deus.

Seremos interrompidos em nossa caminhada. A interrupção será breve e consistirá numa passagem, numa simples passagem que nos levará à porta da eterna novidade: Novos Céus, Nova terra, Vida Nova, Casa do Pai, Morada da Virgem, Comunhão dos Santos, Eterno Banquete, Amor e Felicidade sem fim em Deus-Trindade.

Aqui e agora, em nossa breve caminhada na história, tudo se torna ponte, tudo se torna escada para chegar ao ENCONTRO.

Encontro!Onde te escondeste Amado, e me deixaste com gemido?... Rompe, enfim, esta tela! E aconteça o Doce encontro”.

É sonhar alto? Mas é preciso sonhar, porque este é o sonho de Deus.

Frei Pierino Orlandini

Coração aceso


Sarça ardente,

chama viva crescente,

coração aceso.

Fogo que queima,

brasa candente que aquece,

não se consome e não esmorece.

Fogo que purifica,

calor que fortalece,

paixão que lança à ação.

É o coração.

Amor que inflama

as fibras mais íntimas do ser

e tange,

nas cordas da vida,

uma música leve,

suave,

em tom progressivamente crescente,

sempre mais forte,

fortissimamente,

apaixonadamente.

Sinfonia alegre,

harmoniosa melodia,

concerto deslumbrante,

cativante,

mistério fascinante da vida.

Assim é o coração amante

que explode, às vezes, de repente

e sempre pulsa pela vida

apaixonadamente.

Frei Pierino Orlandini

sexta-feira, 2 de julho de 2010

CANEPINA

Canepina - VT (Panorama)

Se você chegasse um dia

de repente

e, assim, à distância, fixasse o olhar

intensamente...

e contemplasse minha cidade,

a humilde CANEPINA viterbense,

carinhosamente...

e visse os cumes das montanhas

e o mar de verde

que inunda suas planícies e seus vales,

em sintonia de primavera,

prodigiosamente...

e observasse as casinhas juntas,

amarradas,

e os tetos consumidos pelo tempo

e as folhas encrespadas,

encaracoladas e amareladas

das lindas castanheiras e aveleiras

nos campos e campinas,

em seu admirável outono e suas variegadas cores,

milagrosamente....

Você sentar-se-ia imóvel,

maravilhado,

e permaneceria ali extasiado...

e, feliz, jamais se moveria dali!!!

Frei Pierino Orlandini

domingo, 27 de junho de 2010

A VIDA



A noite que passa,
o sol que regressa,
a vida que todo dia recomeça
dizem-me que nada é perdido.


As flores, água, amores,
o céu, a terra, os mares,
o homem, alegrias, dores
dizem-me que tudo revive
no berço do dia que nasce.


Eu homem
vejo-me criança no berço
e sem medo adormeço.
Espero.
Faço planos,
projetos.
Sei que crescerei um dia.
Serei grande um dia,
no mistério da vida
sem ocaso.


Será que uma vida basta para entendermos o mistério da vida? Temos a certeza de que a vida consiste num contínuo desejo de crescer, até chegarmos à maturidade. Quando chegaremos? Como crianças adormecemos tranqüilos no berço da esperança, aguardando ansiosos o amanhã.
Há uma criança que habita no mais íntimo e mais profundo esconderijo do nosso ser, uma criança que se manifesta em recôndito e ininterruptos desejos de crescer e amadurecer, até chegar à estatura perfeita, à estatura de Jesus Cristo.


Frei Pierino Orlandini

CANEPINA

CIDADE NATAL DE FREI PIERINO




terça-feira, 15 de junho de 2010

Deixa que eu cante!

( no VIIº aniversário do aparecimento de minha doença).

Deixa, Senhor, que eu cante,

que grite em todos os cantos

meu canto de vida,

agora outra vida,

por Ti aumentada,

acrescentada à normal previsão

do correr dos meus anos.

Vida que irá expandir-se,

consumir-se em doação.

E será saborosa,

como mel,

e multiplicada.

Diagnóstico certo,

não esperado, imprevisto:

“Mieloma múltiplo”!

Contudo,

há algo de mel nessa doença,

eu sei, Senhor!

MIELOMA. Mel. Algo de doçura.

Doçura na aparente amargura.

São tuas surpresas, Senhor,

surpresas de amor,

reservadas aos teus amigos,

pois tu és Deus-Amor.

Isso mesmo!

Aprendi pela cruz a mim reservada

a agarrar-me com todas as forças,

sim, eu sem força,

- bendita humildade!-

ao teu sempre infinito

amor misterioso.

E tu, Senhor,

minha dor transformaste

e meu vigor multiplicaste.

Venceste meus medos,

minhas sombras, minhas noites.

Recolheste meus trapos

e teceste para mim outra veste

com a ternura

do trabalho do teu coração.

E revestiste minha pobre carne

com tua força e a esperança e a certeza

de mais vida.

Melhor vida!

Que seja minha “vida a mais”

tua reserva, Senhor,

e que eu continue em missão

cantando e anunciando,

mais do que nunca,

tuas maravilhas,

meu” magníficat”.

Sei que queres que me lance na aventura

do impossível, que para ti não existe,

e, contigo, nem para mim.

Amadureci no cadinho da dor,

num instante.

Sábia lição de amor, a tua, Senhor!

Deixa que eu cante e conte,

ó Senhor,

tua lição de amor.

Sofre-se por muitas causas: o abandono, a solidão, as incompreensões, a perda de familiares e amigos... mas penso que o que incute mais medo seja exatamente o sofrimento causado pela doença. Não obstante os notáveis progressos da ciência, de fato, as palavras tumor, câncer, leucemia, esclerose múltipla...criam ainda muito medo. Mas, existe um caminho de saída, um caminho que nos possibilita atravessar a realidade dolorosa da doença com mais coragem, com mais força, com serenidade e paz interior. É o caminho da fé. É a cura interior (no meu caso, também cura física, completa), é a cura da fé. Bendito seja Deus!

É possível passar pela doença e pela dor, numa perspectiva de fé. . Conjugando a experiência da fé com a humildade, a confiança, o abandono total à vontade de Deus, a gente sabe que não está sozinho. Quando se caminha em companhia do Crucificado e se percebe sua presença, o tempo marcado pela cruz é uma graça. Como é importante dar sentido ao sofrimento, à dor e até à morte! (Frei Pierino).

Aquele que é o único Senhor da vida e da morte, Ele mesmo prolongou-me esta vida, de certa maneira, deu-me a vida novamente. Esta nova vida, agora com mais razão, pertence a Ele” (João Paulo IIº).

“Meu coração, por vosso auxílio, rejubile e que eu vos cante pelo bem que me fizeste”. (Sl 12,6).

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum de seus favores”.

(Sl 102,2).

Frei Pierino Orlandini