terça-feira, 15 de junho de 2010

Deixa que eu cante!

( no VIIº aniversário do aparecimento de minha doença).

Deixa, Senhor, que eu cante,

que grite em todos os cantos

meu canto de vida,

agora outra vida,

por Ti aumentada,

acrescentada à normal previsão

do correr dos meus anos.

Vida que irá expandir-se,

consumir-se em doação.

E será saborosa,

como mel,

e multiplicada.

Diagnóstico certo,

não esperado, imprevisto:

“Mieloma múltiplo”!

Contudo,

há algo de mel nessa doença,

eu sei, Senhor!

MIELOMA. Mel. Algo de doçura.

Doçura na aparente amargura.

São tuas surpresas, Senhor,

surpresas de amor,

reservadas aos teus amigos,

pois tu és Deus-Amor.

Isso mesmo!

Aprendi pela cruz a mim reservada

a agarrar-me com todas as forças,

sim, eu sem força,

- bendita humildade!-

ao teu sempre infinito

amor misterioso.

E tu, Senhor,

minha dor transformaste

e meu vigor multiplicaste.

Venceste meus medos,

minhas sombras, minhas noites.

Recolheste meus trapos

e teceste para mim outra veste

com a ternura

do trabalho do teu coração.

E revestiste minha pobre carne

com tua força e a esperança e a certeza

de mais vida.

Melhor vida!

Que seja minha “vida a mais”

tua reserva, Senhor,

e que eu continue em missão

cantando e anunciando,

mais do que nunca,

tuas maravilhas,

meu” magníficat”.

Sei que queres que me lance na aventura

do impossível, que para ti não existe,

e, contigo, nem para mim.

Amadureci no cadinho da dor,

num instante.

Sábia lição de amor, a tua, Senhor!

Deixa que eu cante e conte,

ó Senhor,

tua lição de amor.

Sofre-se por muitas causas: o abandono, a solidão, as incompreensões, a perda de familiares e amigos... mas penso que o que incute mais medo seja exatamente o sofrimento causado pela doença. Não obstante os notáveis progressos da ciência, de fato, as palavras tumor, câncer, leucemia, esclerose múltipla...criam ainda muito medo. Mas, existe um caminho de saída, um caminho que nos possibilita atravessar a realidade dolorosa da doença com mais coragem, com mais força, com serenidade e paz interior. É o caminho da fé. É a cura interior (no meu caso, também cura física, completa), é a cura da fé. Bendito seja Deus!

É possível passar pela doença e pela dor, numa perspectiva de fé. . Conjugando a experiência da fé com a humildade, a confiança, o abandono total à vontade de Deus, a gente sabe que não está sozinho. Quando se caminha em companhia do Crucificado e se percebe sua presença, o tempo marcado pela cruz é uma graça. Como é importante dar sentido ao sofrimento, à dor e até à morte! (Frei Pierino).

Aquele que é o único Senhor da vida e da morte, Ele mesmo prolongou-me esta vida, de certa maneira, deu-me a vida novamente. Esta nova vida, agora com mais razão, pertence a Ele” (João Paulo IIº).

“Meu coração, por vosso auxílio, rejubile e que eu vos cante pelo bem que me fizeste”. (Sl 12,6).

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum de seus favores”.

(Sl 102,2).

Frei Pierino Orlandini

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