domingo, 27 de junho de 2010

A VIDA



A noite que passa,
o sol que regressa,
a vida que todo dia recomeça
dizem-me que nada é perdido.


As flores, água, amores,
o céu, a terra, os mares,
o homem, alegrias, dores
dizem-me que tudo revive
no berço do dia que nasce.


Eu homem
vejo-me criança no berço
e sem medo adormeço.
Espero.
Faço planos,
projetos.
Sei que crescerei um dia.
Serei grande um dia,
no mistério da vida
sem ocaso.


Será que uma vida basta para entendermos o mistério da vida? Temos a certeza de que a vida consiste num contínuo desejo de crescer, até chegarmos à maturidade. Quando chegaremos? Como crianças adormecemos tranqüilos no berço da esperança, aguardando ansiosos o amanhã.
Há uma criança que habita no mais íntimo e mais profundo esconderijo do nosso ser, uma criança que se manifesta em recôndito e ininterruptos desejos de crescer e amadurecer, até chegar à estatura perfeita, à estatura de Jesus Cristo.


Frei Pierino Orlandini

CANEPINA

CIDADE NATAL DE FREI PIERINO




terça-feira, 15 de junho de 2010

Deixa que eu cante!

( no VIIº aniversário do aparecimento de minha doença).

Deixa, Senhor, que eu cante,

que grite em todos os cantos

meu canto de vida,

agora outra vida,

por Ti aumentada,

acrescentada à normal previsão

do correr dos meus anos.

Vida que irá expandir-se,

consumir-se em doação.

E será saborosa,

como mel,

e multiplicada.

Diagnóstico certo,

não esperado, imprevisto:

“Mieloma múltiplo”!

Contudo,

há algo de mel nessa doença,

eu sei, Senhor!

MIELOMA. Mel. Algo de doçura.

Doçura na aparente amargura.

São tuas surpresas, Senhor,

surpresas de amor,

reservadas aos teus amigos,

pois tu és Deus-Amor.

Isso mesmo!

Aprendi pela cruz a mim reservada

a agarrar-me com todas as forças,

sim, eu sem força,

- bendita humildade!-

ao teu sempre infinito

amor misterioso.

E tu, Senhor,

minha dor transformaste

e meu vigor multiplicaste.

Venceste meus medos,

minhas sombras, minhas noites.

Recolheste meus trapos

e teceste para mim outra veste

com a ternura

do trabalho do teu coração.

E revestiste minha pobre carne

com tua força e a esperança e a certeza

de mais vida.

Melhor vida!

Que seja minha “vida a mais”

tua reserva, Senhor,

e que eu continue em missão

cantando e anunciando,

mais do que nunca,

tuas maravilhas,

meu” magníficat”.

Sei que queres que me lance na aventura

do impossível, que para ti não existe,

e, contigo, nem para mim.

Amadureci no cadinho da dor,

num instante.

Sábia lição de amor, a tua, Senhor!

Deixa que eu cante e conte,

ó Senhor,

tua lição de amor.

Sofre-se por muitas causas: o abandono, a solidão, as incompreensões, a perda de familiares e amigos... mas penso que o que incute mais medo seja exatamente o sofrimento causado pela doença. Não obstante os notáveis progressos da ciência, de fato, as palavras tumor, câncer, leucemia, esclerose múltipla...criam ainda muito medo. Mas, existe um caminho de saída, um caminho que nos possibilita atravessar a realidade dolorosa da doença com mais coragem, com mais força, com serenidade e paz interior. É o caminho da fé. É a cura interior (no meu caso, também cura física, completa), é a cura da fé. Bendito seja Deus!

É possível passar pela doença e pela dor, numa perspectiva de fé. . Conjugando a experiência da fé com a humildade, a confiança, o abandono total à vontade de Deus, a gente sabe que não está sozinho. Quando se caminha em companhia do Crucificado e se percebe sua presença, o tempo marcado pela cruz é uma graça. Como é importante dar sentido ao sofrimento, à dor e até à morte! (Frei Pierino).

Aquele que é o único Senhor da vida e da morte, Ele mesmo prolongou-me esta vida, de certa maneira, deu-me a vida novamente. Esta nova vida, agora com mais razão, pertence a Ele” (João Paulo IIº).

“Meu coração, por vosso auxílio, rejubile e que eu vos cante pelo bem que me fizeste”. (Sl 12,6).

“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum de seus favores”.

(Sl 102,2).

Frei Pierino Orlandini

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Quero

Quero permanecer contigo

e, olhos nos olhos,

intimamente,

dizer-te: “Meu!”, “Tu és meu!”:

meu Senhor, meu Salvador, meu Deus,

meu Amor!

E quero falar contigo,

simplesmente,

pausadamente,

silenciosamente.

E renovar-me na tua água,

fonte perpetuamente jorrante,

sedento de vida que dure.

E sentir-me outro, novo,

por ti renovado, lavado refeito.

E assim, em festa,

sentar-me à tua mesa,

comer o teu pão,

“Pão de vida”.

E sentir-me contigo

e sentir-te comigo,

num pacto firme

de renovada e eterna amizade,

de incondicional e livre aliança.

Eu querojá sei que tu queres,

Senhor,

Tu, amigo forte de sempre! –

eu quero deixar-me invadir

pela luz deslumbrante dos teus olhos

E, suavemente,

delicadamente

deixar-me por ti surpreender e seduzir.

“Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir!”

Quero ouvir tua voz responder:

“Eu estou contigo!”; “Eu sou Aquele que sou!”;

“Vai!...

Como se fosse tudo a primeira vez,

como se fosse a única vez.

Tu és sempre novo,

Senhor,

menos para Ti.

Tu és sempre Boa Nova,

“Infinita Alegria”,

Salvação Eterna.

Quero contemplar-te,

meu Jesus Pastor,

eu, ovelha em teus ombros,

reencontrada,

causa de tua festa;

e permanecer em teu redil,

pacífico,

e reconhecer tua voz,

inconfundível agora,

e obedecer-te

e contigo formar comunhão.

Quero contigo crucificado morrer,

Contigo glorificado vencer.

Que tu e eu, enfim,

sejamos um com o Pai,

no Espírito,

uma comunhão de amor.

Frei Pierino Orlandini

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Levanta-te

Para onde vais

caminheiro da vida,

tão desconsolado, desanimado e triste?

Carregas

no âmago do coração

tuas penas, desilusões amargas

e dizes: ”É a vida!”

E tropeças na vida...

E cais na vida...

E paras na vida...

Não fiques caído na vida!

Acorda!Ressuscita! LEVANTA-TE! Anda!

Retoma o caminho e o empenho e a alegria!

Quando o meu caminho, Senhor,

for semeado de morte,

peço-te,

não me deixes morrer...

Cruza meu caminho de morte

com a vida total que irrompe de Ti

e rompe o triste cortejo

que acompanha meu funeral.

Preciso de ti,

de tua mão segura

- os meus passos são incertos –

de tua voz carinhosa,

de teu rosto materno,

de tua alegria

- os meus ouvidos e os meus olhos estão fartos

de coisas que entristecem a vida!-

Preciso de Ti hoje e sempre,

SENHOR,

minha ressurreição e minha vida

Frei Pierino Orlandini